Pensamentos

Tempos Paralelos

17:21Giu Nunes


Sentada no sofá começo a relembrar da festa que dei há alguns anos em meu apartamento. Nem parece que o tempo passou tão rápido. Nem parece que nós passamos tão rápido... Maldito apartamento vazio e silencioso que me lembra disso em cada canto, em cada detalhe, em cada caixa de jogo empilhada ao lado do que costumava ser o nosso Xbox... Maldita cidade fria, preciso desse cobertor para me esquentar. Aquele que costumávamos usar quando íamos jogar agarradinhos no sofá ou até mesmo no chão.

A festa está bombando. A música toca alta e rezo para que os vizinhos não liguem para a polícia. Mas  a maioria está aqui dentro. A batida eletrônica faz minhas veias pulsarem, ou talvez seja as doses de tequila que já tomei. Que todos nós já tomamos, na verdade. Ou quase todos, ele ainda não chegou. Me disseram que talvez ele me faça uma surpresa, mas já a festa já começou há algumas horas e nada...

Vou até a cozinha e preparo uma xícara fumegante de chá. Preciso de algo para aquecer minha alma solitária. Volto para o sofá e ligo a televisão. Está passando o nosso filme favorito. Mudo o canal. Programas de culinária, os mesmo que costumávamos assistir. Mas não tem problema. É isso ou filme. Tomo um gole do chá, que desce quente e reconfortante pela garganta, como se alguém te abraçasse de dentro para fora.

Minha música favorita começa a tocar e saio dançando pela casa. Os outros convidados riem ou entram na dança. Mais alguns shots são virados, mas para não perder o controle como um pouco. Hum, adoro esses bolinhos de red velvet. Ele também gosta, mas não chega. Já começo a ficar um pouco preocupada. Não importa. Vou continuar curtindo a noite com todos os meus melhores amigos. Agora pegaram meus braços e pernas, estão brincando de gangorra comigo e a única coisa que posso fazer é rir, sei que não vão me soltar.

Desisto do sofá. Vou para a varanda e me enrolo no cobertor ao me sentar na cadeira. Sim, está frio, mas eu não ligo, adoro esta vista. Prédios com poucos luzes acessas pelo horário, o céu estrelado e uma leve neblina. Lembro que costumávamos brincar de criar histórias para cada luz acessa. Passávamos horas fazendo isso com uma boa caneca de chocolate quente e marshmallows, além de cookies banhados no chocolate. E ainda me lembro da vez em que você quase nos matou quando colocou o pote de chocolate para derreter no microondas com a colher ainda dentro. Sorte nossa que foram pouquíssimos segundos.

Mais convidados chegam. Mais comida. Mais bebida. A maioria de nós está em pé dançando, enquanto a outra parte está sentada conversando. Minhas amigas começam a me perguntar se ele não irá vir. Infelizmente não tenho resposta para isso, quando na maior parte do tempo sempre sei o que dizer. Elas me dizem para não ficar triste, mas a verdade é que realmente não estou. Sei que ficamos algumas vezes, não temos nada sério nem nada, porém acabei me apaixonando. Aqueles olhos brilhantes e misteriosos, um sorriso que me tira do sério e lábios tenros e macios.

Decido pegar algumas cartas antigas e ler. Sei que vai me machucar, mas eu preciso de uma companhia, mesmo que ausente. Tento entender o porquê nos afastamos. Talvez o tempo desgastou ou o destino quis assim. Nada acontece sem um motivo, se tivemos que acabar, foi por um motivo. A campainha toca. Quem será uma hora dessas? A pessoa não tem relógio em casa? Me levanto do conforto da minha cadeira e fecho a varanda. Vou em direção à porta.

Mais de quatro horas depois do início da festa e ele não chegou. Desisto de esperar e vou aproveitar o resto da minha noite. Alguns convidados já começaram a ir embora, mas nem por isso a festa perdeu o ritmo. Acho que no fundo acabei lendo os sinais errados. Talvez o que tínhamos não era realmente algo concreto e eu me iludi esse tempo todo. A campainha toca. Será que alguém esqueceu alguma coisa aqui? Acho que ninguém chegaria depois de tanto tempo. Será que... Meu coração acelera. Vou em direção à porta.

Abro a porta e lá está você segurando um enorme buquê de rosas (clássicas e clichês) que sempre amei. Abro a porta e lá está você segurando um enorme buquê de rosas (clássicas e clichês) que sempre amei.

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