Cultura

Sobre não ser e não ter

15:28Unknown


Extraído de La Parola
A grande onda da infância era ter um avião de controle remoto. Tinha um comercial na tevê e a molecada se reunia na sala para ver aquela estrutura rasgando o céu. Era bonito e tudo, mas o dinheiro dos pais era pouco. O tempo passou — voou, na verdade — e a onda mudou.
Na adolescência o barato era sair com os amigos ostentando roupas de marca. Do sapato à camisa, tudo muito elegante. As meninas piravam. Teve até uma época em que era legal usar correntes e boné. Eu nunca gostei de bonés e nem tinha grana para as frescuras da moda.
Depois de algum tempo a coisa ficou séria, além de ter era preciso ser alguma coisa. “É preciso estudar para arrumar emprego, arrumar emprego para ganhar dinheiro e ganhar dinheiro para ter uma vida boa”. E nisso eu fiquei meio confuso, pois não tinha (tenho) nada daquilo que era preciso ter e nem era nada daquilo que era preciso ser.
O ócio fez milagres na história da humanidade, mas agora parece que qualquer trabalho é melhor do que ficar à toa. Pensar é desnecessário e a “cabeça vazia é oficina do diabo”. Os práticos criam empresas do zero e faturam milhões por ano. Viram símbolos de sucesso e inspiram milhões de jovens ao redor do mundo.
E eu, que “sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”, para lembrar Belchior, não sei se sigo ou se fico. Eu sou um tanto quanto desajustado.









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