“Enfrente
sua vida
Sua
dor, seus prazeres,
Corra
os caminhos de todos os seres”.
Em “O Livro do Cemitério”, Gaiman constrói
uma narrativa plena acerca da vida. Como nós, humanos e vivos, percebemos a
importância de algo que é tão sublime em sua existência. O livro é narrado em
terceira pessoa, tendo como personagem principal o jovem Nin, apelido para
Ninguém. Ele, ainda bebe, escapa de um homicídio e é deixado aos cuidados dos
mortos, num cemitério perto de sua casa. O jovem é adotado por um casal, os Owens,
e passa a ser o Ninguém Owens.
O
livro começa numa parte de suspense, onde o assassino da família do Nin invade
sua casa e elimina aos seus parentes. O bebe consegue escapar por estar numa
fase de descobertas, engatinhava e estava muito curioso por tudo. A porta
estava aberta e ele viu-se livre para conhecer o mundo em toda sua ingenuidade.
Os Owens adotam a criança após passar por um “conselho” no cemitério, se
poderiam e deveriam ficar com a criança viva. Surgem então problemas bem
comuns, mas que para os mortos é algo complicado. Não poderiam criar o menino,
ele estava vivo e precisaria comer!
Há
alguns personagens secundários que são bem carismáticos, como “Mãe Abate”, que
embora apareça pouco na narrativa, é bem interessante e amigável. Para resolver
o problema, o “Silas”, que não é nem morto nem vivo, se oferece para trazer
alimento para a criança, tornando-se seu guardião.
No
primeiro momento do livro, somos apresentados ao Caio Pompeu, um dos mais velhos
integrantes do cemitério, aos Owens e ao “homem chamado Jack”, ou o vilão da
história. Jack, havia ido atrás do garoto, no cemitério, na intenção de
terminar o serviço e matar a criança; sua função era eliminar toda a família. Logo
após, entram na narrativa o Josiah Worthington “baronete” e “Mãe Abate”...,
decidindo como criarão o menino. O cemitério fica aos alvoroços, era um acontecimento
nunca antes visto e aquilo se tornou uma noite memorável.
A
criança fica, mas todos os integrantes do cemitério se dispõem a cuidar da
criança, e uma relação entre a morte e a vida é iniciada ali. Nem um deles
poderia imaginar que poderiam ter tal tipo de relação. O jovem Nin, criado em
suma pelo “Silas”, era um jovem muito inteligente e sagaz. Aprendeu a ler
decorando as lápides e assim, passou a conhecer todas as almas enterradas ali. Era
curioso e costumava perguntar tudo que lhe viesse à mente, como é qualquer
criança de sua idade. E, por volta dos cinco anos, ele tem sua primeira relação
com outra pessoa viva. Uma criança que brincava no cemitério enquanto sua mãe
lia no banquinho ali perto, Scarlett.
O
que é fascinante é a maneira como as coisas são descritas! Na típica narrativa
do Gaiman, que pude conhecer antes ao ler Coraline. Ele cria o ambiente de uma
forma tão própria, e utilizou de artifícios interessantíssimos, como explorar
os personagens as suas mais incríveis facetas. Há almas da era vitoriana, grega,
romana... E ele faz um paliativo disso, como as coisas aconteceram e o jovem
Nin tem uma verdadeira aula de historia. Há também uma personagem muito
especial que entra no capítulo quatro “A Lápide da bruxa”. O nome do capítulo
já fala tudo.
O
jovem Nin ganha a “Liberdade do Cemitério”, aprende a sumir, a viver entre os
mortos e aprende que seus piores inimigos estão vivos, está do mundo fora do
cemitério. É engraçada essa relação, as pessoas costumam ter medo da morte, a
veem como algo categórico, um fim. Mas o livro estabelece essa relação, de que
a morte não é nada mais que um estágio, e que devemos viver nossas vidas,
nossos prazeres, amores, desejos... O livro é sensacional, a escrita é fácil e
envolvente e os personagens são os melhores! No fim, ficamos com a mensagem de
que devemos aproveitar nossas vidas ao máximo, e que não devemos temer a morte,
apenas aproveitar esse pequeno tempo entre a morte e a vida.
“E todos a macabra vão dançar”.
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